Enxaqueca – prevenção é o melhor tratamento

10 nov, 2022 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Enxaqueca – prevenção é o melhor tratamento

Bruno de Mattos Lombardi Badia

Enxaqueca ou migrânea é uma doença neurológica crônica que afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, além de representar uma das principais causas de absenteísmo no ambiente de trabalho, com importante impacto socioeconômico global e sobre a qualidade de vida dos indivíduos acometidos. Apesar disso, trata-se de uma condição tratável, com diversas opções farmacológicas ou não para reduzir a frequência de episódios de dor de cabeça.

A enxaqueca é caracterizada por episódios recorrentes de cefaleia (ou dor de cabeça) com as seguintes características:

  • Duração dos episódios de 4 a 72 horas;
  • Dor de caráter pulsátil ou latejante;
  • Intensidade de dor moderada a forte;
  • Localização geralmente unilateral (apenas de um lado da cabeça);
  • Sintomas frequentemente associados nas crises de dor de cabeça: náuseas, vômitos, incômodo por luz (fotofobia), barulho (fonofobia) e cheiros (osmofobia).
  • Piora com atividade física e alivia com repouso.
  • Presença ou não de aura – sintomas normalmente visuais ou sensitivos transitórios, que precedem a dor de cabeça e costumam durar de 5 a 60 minutos.

Tratamento das crises de enxaqueca:

 Diante de uma crise de enxaqueca, é recomendável evitar ambientes barulhentos, agitados ou muito iluminados; repousar em local calmo e escuro é a melhor opção sempre que possível. Para alívio da dor podem ser utilizados analgésicos simples como dipirona ou paracetamol de preferência logo no início do sintoma. Anti-inflamatórios como naproxeno, ibuprofeno, cetorolaco e cetoprofeno também podem ser utilizados, frequentemente em associação com os analgésicos simples. Para náusea e vômito, que frequentemente acompanham a dor é recomendada utilização de medicamentos anti-eméticos, como metoclopramida, dimenidrato ou ondansetrona. Outra opção no tratamento agudo são os medicamentos da classe dos triptanos, que agem em receptores de serotonina e tem efeito mais específico sobre enxaqueca; alguns exemplos são sumatriptano, naratriptano e rizatriptano. Opióides como tramadol, codeína ou morfina devem ser evitados em crises de enxaqueca.       

Prevenção – mudar hábitos e evitar gatilhos:

 

Apesar dos tratamentos agudos para crises serem eficazes na maioria dos casos, a recorrência de episódios de enxaqueca costuma ser frequente e é essencial identificar fatores, hábitos ou possíveis gatilhos relacionados às crises. Muitas vezes, apenas essas mudanças são suficientes para reduzir de maneira significativa a frequência de episódios. A seguir alguns fatores, que frequentemente estão associados com enxaqueca:

  • Privação de sono
  • Jejum prolongado
  • Desidratação
  • Sedentarismo
  • Estresse, ansiedade
  • Consumo de bebida alcoólica, em especial vinho
  • Consumo excessivo de cafeína ou energéticos
  • Consumo de alguns alimentos: chocolate, queijos, embutidos (salame, salsicha, bacon etc.), adoçantes artificiais, glutamato monossódico (presente em shoyu e outros molhos e temperos), fermento, frutas cítricas, amêndoas.
  • Exposição prolongada ao sol
  • Uso de anticoncepcionais hormonais

Tratamentos preventivos:

 Para os indivíduos que persistem com crises de enxaqueca com frequência maior do que 3x/mês ou com episódios muito duradouros, de forte intensidade e incapacitantes, existem diversas opções de tratamento, sendo a escolha individualizada levando em conta algumas características e comorbidades do paciente em tratamento. São os chamados tratamentos preventivos ou profiláticos, que devem ser utilizados de maneira contínua, isto é diariamente, com objetivo de prevenir e reduzir a frequência de episódios de dor de cabeça. Dentre as opções, destacam-se as seguintes medicações:

  • Beta-bloqueadores = podem ser utilizados também para tratamento de hipertensão arterial e arritmia cardíaca, mas tem eficácia em enxaqueca. Exemplos: propranolol, metoprolol, atenolol e bisoprolol.
  • Anti-epilépticos = também utilizados no tratamento de epilepsia. Exemplos: topiramato e valproato de sódio.
  • Antidepressivos tricíclicos = reduzem frequência de enxaqueca, mesmo em pacientes sem sintomas depressivos. Exemplos: amitriptilina e nortriptilina.
  • Antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina = principal escolha em pacientes com enxaqueca e sintomas de ansiedade ou depressão associados. Exemplos: duloxetina, venlafaxina e desvenlafaxina.
  • Anticorpos monoclonais anti-CGRP = novos tratamentos desenvolvidos especificamente para tratamento preventivo de enxaqueca, de administração subcutânea com frequência mensal ou trimestral. Exemplos: erenumabe, fremanezumabe e galcanezumabe.

Além dos acima citados, há evidência positiva para uso de alguns fitoterápicos ou nutracêuticos como tratamento preventivo de enxaqueca, como por exemplo: riboflavina, coenzima Q10, magnésio, ácido alfa-lipóico, Tanacetum parthenium L.,

Petasites hybridus, dentre outros. Diversos estudos também comprovam a eficácia da acupuntura e da aplicação de toxina botulínica em protocolo específico como tratamentos preventivos para enxaqueca.   

Em resumo, a enxaqueca é uma condição neurológica crônica frequente, que pode ser bastante debilitante levando a piora da qualidade de vida e prejuízos socioeconômicos aos indivíduos acometidos. Apesar disso, existem diversas opções de tratamento disponíveis para reduzir a frequência de episódios de dor de cabeça, desde simples mudanças de hábitos até tratamentos utilizando fitoterápicos, acupuntura, toxina botulínica ou medicações de uso contínuo. O tratamento deve ser individualizado e acompanhado por um especialista, sendo a escolha dentre as diversas opções uma decisão conjunta do médico com o paciente, levando em conta suas preferências e outros problemas de saúde associados.