Você conhece os efeitos negativos do álcool sobre o sistema nervoso?

21 nov, 2022 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Você conhece os efeitos negativos do álcool sobre o sistema nervoso?

Bruno de Mattos Lombardi Badia

O álcool etílico, etanol ou simplesmente álcool é uma substância orgânica obtida por meio da fermentação de açúcares e presente em bebidas como cerveja, vinho, cachaça, whisky, dentre muitas outras. O álcool é conhecido e utilizado pelos seres humanos em bebidas desde a Antiguidade, valorizado por seu efeito inebriante que leva a euforia, desinibição e a maior facilidade de socialização. O consumo crônico e excessivo, entretanto, leva a diversos problemas e riscos à saúde, em especial ao sistema nervoso.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) não há um padrão de consumo de álcool que possa ser considerado absolutamente seguro, mas é recomendável não exceder a ingestão de duas doses de álcool por dia para homens e uma dose para mulheres, sendo que esse consumo também não deve ser feito mais do que 4x/semana.

Uma dose de álcool corresponde a cerca de 10 a 14 gramas, o que é equivalente a cerca de 350 ml de cerveja (5% de álcool), 150 ml de vinho (12% de álcool) ou 45 ml de destilados, como vodka, cachaça, whisky, gin ou tequila (40% de álcool). 

Etilismo ou alcoolismo é uma doença crônica definida pela dependência da ingestão de álcool, com falta de controle ao tentar parar de beber e tolerância, levando a sintomas físicos e psíquicos em períodos de abstinência da bebida. É estimado, que no Brasil, cerca de 10% da população seja acometida pelo alcoolismo, sendo que destes 70% são homens.

O uso excessivo de álcool, mesmo que de forma isolada, pode trazer consequências imediatas de curto prazo, como:

  • Intoxicação aguda – risco de coma e morte
  • Aumento da incidência de lesões traumáticas, quedas, acidentes automobilísticos e afogamentos.
  • Aumento da incidência de violência, incluindo homicídio, suicídio, abuso sexual e violência doméstica.
  • Em mulheres grávidas = aumento do risco de aborto, antecipação do parto e desenvolvimento de malformações fetais. 

Efeitos negativos do consumo crônico de álcool podem ser observados em quase todo organismo, incluindo:

  • Estômago = gastrite, refluxo e úlceras
  • Fígado = esteatose, hepatite e cirrose hepática
  • Pâncreas = pancreatite
  • Coração = miocardite, aumento de aterosclerose e do risco de infarto do miocárdio.
  • Sistema imunológico = aumento da incidência de infecções.
  • Aumento da incidência de câncer no trato gastrointestinal, mama, faringe, bexiga, próstata e outros órgãos.

Além de todos os efeitos agudos e crônicos citados acima, o consumo de álcool pode ser bastante prejudicial para o sistema nervoso, incluindo desde órgãos centrais como o cérebro e cerebelo, até nosso sistema nervoso periférico levando a comprometimento dos nervos e músculos. A seguir, as principais consequências do consumo de álcool para o sistema nervoso:

  • Síndrome de Wernicke = quadro caracterizado por ataxia (perda de coordenação motora), confusão mental e oftalmoplegia (paralisia da musculatura dos olhos). Ocorre por deficiência grave da vitamina B1 ou tiamina, que é uma complicação observada frequentemente em etilistas crônicos. O tratamento envolve reposição endovenosa em altas doses de tiamina.
  • Síndrome de Korsakoff = quadro de demência provocado pelo álcool e deficiência crônica de tiamina, muitas vezes observado junto aos sintomas descritos na síndrome de Wernicke. Caracterizado por perda de memória recente, dificuldade de aprender novos conceitos ou reter novas memórias, além de confabulações, que são elementos da imaginação ou memórias antigas isoladas que acabam sendo incorporados pelo paciente no seu dia a dia.
  • Degeneração cerebelar alcoólica = evolução lenta de degeneração e atrofia do cerebelo, órgão do sistema nervoso responsável pelo equilíbrio e coordenação motora. Como consequência, os pacientes com esse quadro apresentam desequilíbrio, ataxia, que é a perda de coordenação motora, além de alterações na fala e na movimentação ocular frequentemente.
  • Aumento da incidência de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e hemorrágicos.
  • Delirium tremens = quadro de encefalopatia aguda que pode se desenvolver cerca de 48 horas após abstinência de álcool. Costuma ser caracterizado por agitação psicomotora, alucinações e crises epilépticas; pode durar até 2 semanas.
  • Doença de Marchiafava-Bignani = complicação rara e grave decorrente do uso crônico e abusivo de álcool, que leva a degeneração de uma região cerebral conhecida por corpo caloso. Provoca alteração de consciência, alteração da marcha, crises epilépticas e demência com altas taxas de mortalidade e prognóstico bastante desfavorável.
  • Polineuropatia periférica tóxica pelo álcool = etilismo é uma das principais causas de neuropatia periférica. Evolução geralmente é lenta e progressiva, inicialmente com sintomas sensitivos e dolorosos em extremidades, podendo evoluir para desequilíbrio, atrofia muscular e fraqueza em casos mais graves.
  • Miopatia tóxica pelo álcool = provocada por lesão direta do álcool nas fibras musculares. Costuma se apresentar com cãibras, dor muscular, fraqueza generalizada e elevação de enzimas musculares.

Em resumo, o consumo de álcool pode trazer diversas consequências negativas imediatas e tardias para o organismo, especialmente quando esse consumo é abusivo e feito de maneira crônica. Os prejuízos para o sistema nervoso também são diversos, incluindo desde comprometimento cognitivo, vascular e do equilíbrio por acometimento de órgãos centrais, assim como, acometimento de nervos e músculos podendo levar a dormência, dor neuropática e fraqueza muscular, dentre outros.