Paralisia facial – nem sempre causada por AVC

30 nov, 2022 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Paralisia facial – nem sempre causada por AVC

Bruno de Mattos Lombardi Badia

O aparecimento de paralisia facial costuma trazer bastante preocupação nos indivíduos acometidos, que imediatamente associam esse sinal a um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem sempre é o caso. Paralisia de Bell ou paralisia facial idiopática é uma condição relativamente frequente que leva a enfraquecimento agudo e paralisia dos músculos de um dos lados da face causado por uma inflamação do nervo facial. 

A fraqueza do rosto nos casos de Paralisia de Bell costuma envolver as porções superior (olhos e testa) e inferior (boca) de um dos lados da face, enquanto em casos de AVC o mais frequente é que apenas a porção inferior da face seja acometida. Nos casos de AVC, a instalação do sintoma costuma ser súbita e frequentemente está associada a fraqueza em outras regiões do corpo, como braço e perna, além de dificuldade para falar e alterações de sensibilidade. Já na paralisia de Bell, a fraqueza costuma se instalar ao longo de horas e de maneira isolada na face, embora possa ser notada de uma hora para outra por alguns pacientes.

Em termos epidemiológicos, a paralisia de Bell tem incidência estimada de 20 a 40 casos por 100 mil habitantes por ano, sem predileção por gênero, com idade média de ocorrência aos 40 anos. Ocorre aumento da incidência com envelhecimento e recorrência da paralisia facial pode ocorrer em 7% dos pacientes. 

A etiologia exata dessa condição permanece até hoje desconhecida, reconhecendo-se que ocorre inflamação e edema do nervo facial, mas sem uma causa clara identificável em todos os casos. Uma das principais hipóteses é que haja relação com reativação de infecção latente pelo vírus herpes simples tipo 1 na região do gânglio geniculado. Outros fatores predisponentes infecciosos e até estresse emocional também já foram sugeridos como possíveis causas.

O quadro clínico típico dessa condição é de fraqueza facial unilateral de instalação aguda em 24 a 72 horas, com dificuldade para fechar um dos olhos, levantar a sobrancelha, enrugar a testa, sorrir e assobiar, além de desvio e queda da boca para o lado.



Além de inervar a musculatura facial, o nervo facial também participa da inervação: 

  • Sensitiva do canal auditivo externo, mastóide e mucosa do palato
  • Músculo estapédio = função na audição, protege estruturas do ouvido diante de estímulos sonoros muito intensos.
  • Glândulas lacrimais e salivares menores
  • Sensibilidade gustativa dos 2 terços anteriores da língua.

Por isso, outros sintomas que podem estar presentes são: 

  • Dor na região da orelha e mastoide
  • Hiperacusia = aumento de sensibilidade e desconforto com sons altos
  • Olho seco e alteração da produção de lágrima
  • Alteração do paladar

O diagnóstico é clínico e exames complementares não são necessários em casos típicos. Quando realizada, a ressonância magnética costuma revelar um hipersinal e captação de contraste no nervo facial do lado acometido. Diagnósticos diferenciais incluem: doença de Lyme, síndrome de Ramsay-Hunt, sarcoidose, síndrome de Guillain Barré, dentre outras.

O tratamento com corticosteroides logo no início dos sintomas e a realização de fisioterapia motora facial auxiliam no processo de recuperação do quadro. Uso de colírio lubrificante durante o dia e pomada oftalmológica durante a noite é recomendado para os casos com dificuldade de oclusão palpebral ou olho seco. O prognóstico em geral é bom, com recuperação completa ocorrendo em mais de 85% dos casos após 1 ano.