Miopatia por corpos de inclusão

12 dez, 2022 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Miopatia por corpos de inclusão

Bruno de Mattos Lombardi Badia

Existem diversas condições que podem afetar os músculos causando doenças específicas, que chamamos de miopatias incluindo causas genéticas, inflamatórias, tóxicas, infecciosas e degenerativas. A miopatia por corpos de inclusão (Inclusion body myositis ou IBM) é uma doença muscular inflamatória e degenerativa, que costuma acometer indivíduos entre 50 e 70 anos, sendo mais frequente em homens e a causa mais frequente de miopatia adquirida após 50 anos de idade.


Trata-se de condição esporádica, correlacionada muitas vezes a doenças sistêmicas, como: 

  • Sarcoidose,
  • Doença de Sjogren, 
  • Infecção por HIV, 
  • Hepatite C 
  • Doenças hematológicas como leucemia linfóide crônica e paraproteinemias.

    O quadro clínico típico inclui os seguintes sintomas e sinais: 
  • Fraqueza e atrofia muscular de progressão lenta e acometendo principalmente músculos da região anterior das coxas, antebraços e flexores dos dedos das mãos.
  • Comprometimento assimétrico, isto é, há importante diferença de força e atrofia entre os dois lados do corpo.
  • Acometimento da musculatura axial (abdome e músculos do pescoço e da coluna espinhal).
  • Pode ocorrer fraqueza da face.
  • Em fases mais tardias da doença (cerca de 10 anos), pode ocorrer fraqueza da musculatura faríngea, levando a disfagia (dificuldade para engolir).
  • Dor muscular e cãibras não são comuns.
  • Não é esperado que ocorra acometimento cardíaco e fraqueza dos músculos respiratórios é bastante rara.

O diagnóstico é baseado na avaliação clínica e em exames complementares, em que se pode observar:

  • Enzimas musculares (CPK e aldolase) normais ou discretamente elevadas.
  • Eletroneuromiografia com padrão miopático crônico e presença de fibrilações e ondas agudas positivas. Achado adicional de polineuropatia axonal sensitiva pode ser visto em cerca de 1/3 dos casos.
  • Ressonância magnética com substituição de músculos por gordura na região anterior de coxas e cabeça medial do gastrocnêmio (músculo da panturrilha), de caráter assimétrico, poupando os músculos adutor magno e reto femoral. Alguns sinais de inflamação podem estar presentes.
  • Biópsia muscular: achados miopáticos crônicos, infiltrado inflamatório endomisial com predomínio de linfócitos, presença de corpos de inclusão ou vacúolos marginados contendo agregados de proteínas.
  • Identificação de autoanticorpo anti-cN1A/5’ nucleotidase 1A em cerca de 30 a 50% dos pacientes.

Apesar de ser classificada como uma doença muscular inflamatória, atualmente reconhece-se a maior importância do componente degenerativo na origem e progressão da doença. Não há benefício do uso de corticosteróides ou medicações imunossupressoras e não há até o momento nenhuma medicação que seja capaz de curar ou retardar a progressão de doença. O tratamento recomendado é reabilitação neuromuscular com profissionais especializados em fisioterapia motora, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Além disso, é essencial rastrear condições clínicas frequentemente associadas à doença, como sarcoidose, HIV, hepatite C, doença de Sjogren e doenças linfoproliferativas.

Em resumo, a miosite por corpos de inclusão é a doença muscular esporádica mais frequente após os 50 anos, cursando com quadro de fraqueza muscular assimétrica lentamente progressiva e com achados característicos de imagem e biópsia muscular. Tem caráter degenerativo associado a alguns componentes inflamatórios, mas até o momento sem nenhuma terapia medicamentosa eficaz, sendo a reabilitação especializada o tratamento recomendado.