Diabetes – uma causa importante de doença dos nervos

14 nov, 2022 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Diabetes – uma causa importante de doença dos nervos

Bruno de Mattos Lombardi Badia

Diabetes mellitus é uma doença metabólica crônica causada pela falta ou funcionamento inadequado da insulina, hormônio produzido no pâncreas com função de metabolizar a glicose e transformá-la em energia para as células do organismo. Trata-se de condição extremamente prevalente em todo o mundo, sendo estimada no Brasil uma prevalência de 9,2%, isto é, quase 1 em cada 10 habitantes do país possuem a doença. 

Além dos efeitos negativos e sintomas provocados diretamente pelos altos níveis de glicose no sangue, a diabetes é responsável por diversas complicações crônicas, como aumento do risco de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, comprometimento do sistema imunológico, doença renal crônica, retinopatia e por acometimento dos nervos periféricos, a chamada neuropatia ou polineuropatia diabética.

Neuropatia diabética é complicação microvascular mais frequente em pacientes com diabetes, sendo estimado que pelo menos metade dos diabéticos desenvolverá neuropatia em algum momento da evolução clínica. Muitos são assintomáticos ou se apresentam inicialmente com sintomas sensitivos leves, mas mesmo nesses casos, a neuropatia constitui fator de risco importante para úlceras, deformidades, amputações de membros inferiores e desenvolvimento de outras complicações microvasculares.

Sintomas e sinais:

A maioria dos casos de neuropatia diabética se apresenta como uma polineuropatia axonal distal e simétrica crônica, isto é, que se desenvolve de maneira lentamente progressiva, apresentando incialmente sintomas sensitivos e autonômicos e apenas tardiamente com acometimento motor. Classicamente, os sintomas iniciam nos pés e tem um padrão de progressão chamado comprimento-dependente, subindo para tornozelos, joelhos e para os membros superiores iniciando nas pontas dos dedos das mãos e progredindo lentamente.

Dentre os principais sintomas e sinais, pode-se destacar:

  • Formigamento e sensação de dormência em pés e mãos; 
  • Redução e perda de sensibilidade para tato, dor e temperatura;
  • Dor neuropática – queimação, ardência, choques ou agulhadas;
  • Diminuição e perda dos reflexos profundos;
  • Desequilíbrio e quedas, necessidade de olhar para o chão ao andar;
  • Fraqueza e atrofia muscular (tardiamente);

Além dos sintomas sensitivos e motores descritos acima, na neuropatia diabética ocorre importante acometimento do sistema autonômico, levando a sintomas muitas vezes pouco reconhecidos:

  • Redução da sudorese, ressecamento da pele, alteração de cor, temperatura e perda de pelos = aumenta o risco de úlceras e amputações.
  • Hipotensão ortostática = queda da pressão ao levantar-se;
  • Arritmias cardíacas;
  • Náusea, vômitos, empachamento, saciedade precoce;
  • Alternância entre diarreia e constipação;
  • Disfunção erétil;
  • Urgência urinária, esvaziamento vesical incompleto, aumento da frequência miccional especialmente noturna (noctúria);


Tratamento:

O controle rigoroso da glicemia é fundamental para a estabilização e em alguns casos até melhora da neuropatia diabética, sendo o objetivo atingir níveis normais de glicemia sempre que possível. Ainda assim, existem muitos casos em que os sintomas e sinais de neuropatia permanecem a despeito do bom controle da diabetes. O cuidado com os pés também é fundamental, sendo recomendada inspeção periódica em busca de feridas ou lesões, além do uso de calçados confortáveis que não machuquem os pés.

Evidências apontam que o estresse oxidativo está envolvido diretamente na fisiopatologia da neuropatia diabética, o que justificaria o uso de alguns fármacos antioxidantes nesses casos. O ácido alfa-lipóico é um desses compostos, eventualmente prescrito para pacientes com neuropatia diabética, baseado em alguns estudos que demonstraram pequena eficácia com a formulação endovenosa. Os ensaios clínicos com a formulação oral, porém, até o momento não demonstraram benefício relevante, sendo necessários estudos complementares sobre sua eficácia.

Para os pacientes que apresentam sintomas de dor neuropática está recomendado o uso de medicações, como gabapentina, pregabalina e antidepressivos, como duloxetina, venlafaxina e amitriptilina. Outras opções de segunda linha incluem a capsaicina tópica e alguns opioides, como tramadol. A reabilitação com fisioterapia motora também é indicada, especialmente nos pacientes com comprometimento motor e fraqueza muscular.

Conclusão:

Diabetes é uma doença metabólica crônica e extremamente prevalente em nosso meio com diversas possíveis complicações relacionadas, dentre as quais se destaca a neuropatia diabética, que costuma se desenvolver de forma lenta e progressiva com sintomas de formigamento, queimação, dormência e fraqueza especialmente em pés. Bom controle da glicemia e reabilitação com fisioterapia motora são fundamentais para todos os acometidos, além de cuidados preventivos para evitar lesões e úlceras. Diagnóstico e tratamento precoce são essenciais na prevenção de progressão da doença e suas complicações.