Já ouviu falar de Síndrome de Guillain-Barré?

31 ago, 2022 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Já ouviu falar de Síndrome de Guillain-Barré?

Por Dr. Bruno de Mattos Lombardi Badia

 

A síndrome de Guillain-Barré ou polirradiculoneuropatia inflamatória aguda corresponde a uma doença imunológica, que cursa com inflamação e dano aos nervos periféricos e suas raízes de início agudo e com sintomas sensitivos e motores. É geralmente provocada por um fenômeno conhecido como mimetismo molecular, em que um processo infeccioso gera uma resposta imunológica cruzada contra componentes do nervo periférico. Isto é, os anticorpos produzidos para combater a infecção, normalmente uma gastroenterite ou infecção de vias aéreas, acabam por atacar também componentes do próprio organismo, nesse caso a mielina ou axônio dos nervos.

Essa condição foi descrita inicialmente em 1916, por 3 médicos franceses Georges Charles Guillain, Jean Alexandre Barré e André Strohl, que acompanharam o caso de 2 soldados da Primeira Guerra Mundial com quadro agudo de fraqueza muscular, perda de reflexos e alterações de sensibilidade, que tiveram boa recuperação após alguns meses. Atualmente, sabe-se que essa doença é de ocorrência global, podendo acometer todas as faixas etárias e com incidência de 1 a 2 casos por 100.000 habitantes por ano.

O quadro clínico típico é de fraqueza muscular ascendente bilateral (começando pelos pés e subindo para mãos), perda dos reflexos profundos e formigamentos em mãos e pés com evolução aguda num período de 2 a 4 semanas.

Outros sintomas e sinais que podem ser observados são:

– Paralisia dos músculos da face,

– Dificuldade para engolir ou falar,

– Dificuldade para respirar,

– Dor lombar e nas pernas,

– Desequilíbrio,

– Perda de sensibilidade e dormência, principalmente nos pés e mãos,

– Alterações do sistema nervoso autonômico = variações da pressão arterial, ritmo cardíaco, retenção urinária e constipação, por exemplo.

Os principais exames complementares utilizados no diagnóstico são o líquor e a eletroneuromiografia, que costumam apresentar alterações características. O líquor ou líquido cerebroespinhal é obtido por meio de punção na região lombar e nos casos de Guillain-Barré costuma revelar aumento da concentração de proteínas sem elevação de células inflamatórias. A eletroneuromiografia consiste em um exame que permite estudar a condução dos nervos periféricos e auxilia na confirmação do diagnóstico e na classificação da doença em formas que acometem preferencialmente a mielina do nervo (desmielinizantes) ou os axônios (axonais).

Fonte da imagem: https://www.tuasaude.com/puncao-lombar/

A síndrome de Guillain-Barré é uma doença grave com necessidade de internação preferencialmente em UTI, monitorização de complicações e rápida administração de terapêutica adequada. Atualmente existem duas opções de tratamento indicadas nos casos em que há comprometimento da força muscular e dificuldade para caminhar sem auxílio: imunoglobulina humana endovenosa ou plasmaférese. Ambos os tratamentos demonstram eficácia em reduzir tempo de recuperação e promovem melhora mais rápida da força muscular, sendo os melhores resultados observados naqueles pacientes tratados de forma mais precoce (antes de 7 a 14 dias do início dos sintomas). A reabilitação com fisioterapia motora é essencial e a recuperação das sequelas pode levar de semanas até meses.

Em resumo, a síndrome de Guillain-Barré é uma doença neuromuscular imunológica em que a inflamação das raízes e nervos periféricos leva a um quadro agudo de fraqueza muscular e alteração de sensibilidade, que em casos mais graves pode comprometer a capacidade de falar, deglutir e até mesmo respirar podendo ser fatal ou deixar importantes sequelas caso não seja prontamente diagnosticada e tratada de forma adequada.

Fonte da imagem: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/g/sindrome-de-guillain-barre-1
Fonte da imagem: https://www.tuasaude.com/puncao-lombar/