Melatonina e o sono
16 jan, 2023 | Bruno Badia | Comentários desabilitados
Melatonina e o sono
Bruno de Mattos Lombardi Badia
O sono é um componente fundamental em nossas vidas. Passamos praticamente um terço de nossas vidas dormindo e hoje é bem conhecida a importância do sono para nosso bem-estar físico e mental, para consolidação de nossas memórias, aprendizado, aperfeiçoamento de habilidades, criatividade, resolução de problemas e até modulação de nossas emoções. Nosso organismo possui um complexo mecanismo de regulação do ciclo circadiano, a alternância dos períodos de sono e vigília, e a melatonina é parte fundamental nesse processo.
Melatonina é um hormônio produzido pelo organismo em uma estrutura cerebral profunda chamada de glândula pineal, e que tem papel importante no ciclo de sono e vigília. A produção de melatonina é influenciada principalmente por estímulos luminosos e de claridade, que suprimem a produção desse hormônio durante o dia. Em condições naturais, durante a noite e sem exposição a luminosidade, começa a ocorrer produção da melatonina, que funciona como um sinalizador ao organismo de que é o momento para dormir.
É fácil supor que nosso modelo de vida atual, com exposição praticamente constante a iluminação artificial e alta carga de estresse até próximo do final da noite, acaba por prejudicar a produção de melatonina e sua sinalização ao organismo sobre o horário ideal para adormecer. Além disso, é esperada uma redução da produção de melatonina e até certo grau de deficiência em indivíduos idosos, o que, em parte, justifica a maior prevalência de insônia nessa população.
A melatonina pode ser administrada por via exógena, na forma de suplemento ou medicamento algumas horas antes de dormir, embora haja indicações específicas e não seja recomendado seu uso indiscriminado e sem orientação médica. Medidas de higiene de sono, como horários definidos para dormir e acordar, evitar exposição a luz e telas após certo horário da noite, dentre outras costumam ter eficácia maior do que o uso isolado da medicação em grande parte dos casos.
Possíveis indicações para o uso de melatonina, incluem:
- Insônia inicial (dificuldade para pegar no sono) em idosos
- Distúrbios de sono relacionados a jet lag
- Distúrbio de sono em trabalhadores de turnos – que tem rotina de trabalho com plantões noturnos, por exemplo.
- Distúrbios de sono relacionados a variações do ciclo circadiano – em pacientes que tem atraso de fase de sono, por exemplo, com hábito de dormir e acordar muito tarde.
- Transtorno comportamental do sono REM – observado em pacientes com doenças neurodegenerativas, como Parkinson. Caracterizado por movimentação excessiva, fala e agitação durante a fase de sono REM.
Por outro lado, indivíduos que apresentam outras causas para prejuízo do sono, como apneia obstrutiva do sono, insônia terminal ou de manutenção e insônia relacionada a transtornos de humor como ansiedade ou depressão, não devem ter benefício com uso da melatonina, sendo necessário tratamento específico. É essencial, portanto, buscar atendimento especializado em caso de distúrbios relacionados ao sono e evitar a automedicação.
Em resumo, a melatonina é um hormônio produzido por nosso organismo e serve como um sinalizador do momento de adormecer. Em algumas situações específicas a suplementação de melatonina pode ser benéfica e auxiliar no sono, mas o uso indiscriminado e sem prescrição não é recomendado, sendo ideal procurar um especialista diante de problemas como insônia, sonolência diurna e sono não reparador.