Neuralgia do Trigêmeo

8 mar, 2023 | Bruno Badia | Comentários desabilitados

Neuralgia do Trigêmeo

Bruno de Mattos Lombardi Badia

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– Neuralgia do Trigêmeo

 

Dor de cabeça ou cefaleia é uma queixa bastante frequente e existem diversas causas possivelmente relacionadas. Dor facial, por outro lado, é uma queixa distinta, menos frequentemente observada, mas que pode levar a sintomas incapacitantes e que merecem investigação e tratamento. Dentre as principais causas de dor facial, está a neuralgia do trigêmeo.

 

O nervo trigêmeo é o quinto nervo craniano, responsável principalmente pela sensibilidade da face, mas também pela função motora de alguns músculos da mastigação. Recebe esse nome devido a sua subdivisão em três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular. Cada indivíduo possui um par de nervos trigêmeos, cada um responsável por um lado da face.

 

 

 

A neuralgia do trigêmeo corresponde a dor facial em um ou mais territórios dos ramos do nervo trigêmeo, com algumas características:

 

  • Dor abrupta, unilateral, intensa, recorrente e de curta duração, com característica geralmente em choque ou facada.
  • Duração dos episódios de dor de poucos segundos até 2 minutos e frequência 0 a 50 episódios por dia.
  • Desencadeada e exacerbada por estímulos, como o toque, falar, mastigar, escovar os dentes, se barbear.

 

A neuralgia do trigêmeo frequentemente é confundida com problemas odontológicos, o que pode levar a procedimentos desnecessários de extração dentária. O diagnóstico depende da descrição clínica das características de dor mais do que de qualquer exame complementar.

A prevalência de dor facial na população é de cerca de 2% e a prevalência de neuralgia do trigêmeo é de 0,07%. Dentre os subtipos e etiologias, pode-se destacar:

 

  • Neuralgia do trigêmeo clássica (70% dos casos) = causada por conflito neurovascular, isto é, o nervo é comprimido em seu trajeto por algum vaso sanguíneo.
  • Neuralgia do trigêmeo secundária (ou sintomática) = causada por lesão expansiva, inflamatória, infecciosa ou qualquer outra etiologia, que não conflito neurovascular.
  • Neuralgia do trigêmeo idiopática (cerca de 10% dos casos) = quando não há nenhuma causa identificável.

O diagnóstico da neuralgia do trigêmeo é clínico e baseado nas características da dor. A investigação complementar utilizando exames de imagem e neurofisiológicos têm importância na determinação de etiologia relacionada e possível programação de tratamento futuro. Ressonância magnética utilizando sequências de reconstrução tridimensionais é o exame indicado em todos os casos de neuralgia do trigêmeo para identificação de possíveis etiologias secundárias ou conflito neurovascular. Avaliação neurofisiológica com teste de reflexo trigeminal pode ser realizada em casos selecionados.

 

O tratamento da neuralgia do trigêmeo envolve o uso de medicações, que reduzem a frequência de episódios de dor. Dentre as principais, se destaca:

 

  • Opção inicial = carbamazepina ou oxcarbazepina
  • Segunda escolha ou adjuvantes: baclofeno, lamotrigina, gabapentina, pregabalina, antidepressivos duais.
  • Para pacientes não respondedores a tratamento farmacológico pode-se tentar tratamento com toxina botulínica antes de indicação de cirurgia.

 

Tratamento cirúrgico está indicado em casos refratários, que não respondem adequadamente ao uso de medicações, ou diante da presença de etiologias secundárias como neoplasias que comprimem o nervo trigêmeo e são responsáveis pelos sintomas. Existem diversas técnicas cirúrgicas possíveis a depender de cada caso individualmente, como: lesão percutânea do gânglio trigeminal por balonamento, termocoagulação por radiofrequência ou ablação química com glicerol; descompressão microvascular em fossa posterior e radiocirurgia estereotáxica com gamma knife.

 

Em resumo, a neuralgia do trigêmeo é uma causa relativamente frequente de dor facial, que deve ser prontamente reconhecida devido a seu potencial de causar sintomas incapacitantes e de difícil controle se não manejados de maneira correta. É importante investigar possíveis causas subjacentes para indicação do tratamento mais adequado a cada caso, seja com uso de medicações ou com procedimentos cirúrgicos.