Cefaleia Tensional
10 jan, 2023 | Bruno Badia | Comentários desabilitados
Cefaleia Tensional
Bruno de Mattos Lombardi Badia
Cefaleia ou dor de cabeça é uma das queixas mais prevalentes na população e uma das principais causas de procura por atendimento médico. Esse sintoma pode ser alarme de uma condição secundária subjacente, como sinusite, meningite, sangramentos ou neoplasias intracranianas, mas muito frequentemente é a manifestação principal de doenças neurológicas crônicas, conhecidas como cefaleias primárias, dentre as quais se destacam enxaqueca, cefaleia tensional, cefaleia em salvas, hemicrania paroxística, dentre outras.
A cefaleia tensional ou cefaleia do tipo tensão é uma condição extremamente prevalente (prevalência estimada de 38 a 74% da população) sendo inclusive mais frequente do que a enxaqueca. Entretanto, por suas características de dor menos intensa e menor associação com sintomas incapacitantes que impactem no dia a dia, a cefaleia tensional acaba por ser menos reconhecida e nem sempre é motivo para procura de atendimento médico.
A fisiopatologia dessa condição ainda não é completamente conhecida. Acredita-se que haja participação de fatores periféricos relacionados à musculatura do crânio, face, mandíbula e pescoço, que associados a fatores psíquicos e estresse, contribuem para maior estimulação do sistema nervoso central levando a redução do limiar de dor e facilitando a instalação da cefaleia.
As principais características que permitem o diagnóstico da cefaleia tensional são:
- Dor de cabeça de intensidade leve a moderada;
- Dor de localização bilateral
- Dor não latejante/pulsátil
- Duração de 30 minutos até 7 dias
- Dor não piora ou se agrava com atividades
- Ausência de náusea ou vômito nas crises
- Fotofobia ou fonofobia podem estar presentes (apenas 1 deles, presença dos 2 sugere enxaqueca)
A cefaleia tensional pode ser classificada em:
- Infrequente = até 1 episódio por mês
- Frequente = 2 a 14 dias de dor de cabeça por mês
- Crônica = 15 ou mais dias de dor de cabeça por mês
O diagnóstico da cefaleia tensional é clínico, baseado nas características e frequência da dor de cabeça, associado a exame neurológico normal e ausência de fatores de risco para condições secundárias. Exames complementares não são obrigatórios, mas podem ser úteis para descartar diagnósticos alternativos. O esperado é que tomografia computadorizada, ressonância magnética e outros exames sejam normais em pacientes com cefaleia do tipo tensional.
O tratamento envolve medidas farmacológicas e não farmacológicas e é dividido em tratamento agudo das crises de dor e tratamento profilático ou preventivo, que tem como objetivo diminuir a frequência de episódios.
Dentre as medidas não farmacológicas, pode-se destacar:
- Correção de atitudes e posturas, que podem levar a dor.
- Medidas comportamentais para lidar com situações estressantes e conflitos
- Atividades físicas e de relaxamento
- Terapia cognitivo-comportamental
- Acupuntura
- Fisioterapia
O tratamento agudo das crises de dor costuma ser feito com analgésicos simples e anti-inflamatórios por via oral:
- Paracetamol
- Dipirona
- Ácido acetilsalicílico
- Diclofenaco sódico
- Ibuprofeno
- Naproxeno
- Evitar o uso de opioides, como tramadol, codeína e morfina.
O tratamento medicamentoso profilático está indicado nos indivíduos com cefaleia tensional crônica, que tem crises frequentes ao longo do mês. Essas medicações devem ser prescritas por profissional especializado e seu uso deve ser acompanhado periodicamente. Algumas das mais utilizadas são:
- Amitriptilina
- Nortriptilina
- Venlafaxina
- Duloxetina
- Mirtazapina
- Gabapentina
Em resumo, a cefaleia do tipo tensional é uma doença extremamente frequente, embora por suas características possa ser menos reconhecida. Episódios agudos esporádicos costumam ser tratados com automedicação e geralmente apenas os indivíduos com cefaleia tensional frequente ou crônica acabam por buscar atendimento especializado e recebem diagnóstico e tratamento adequados.